A altitude elevada exerce um impacto significativo sobre o organismo humano, podendo afetar o equilíbrio homeostático dos sistemas orgânicos. Isso se torna ainda mais evidente quando observado o desempenho de atletas, especialmente aqueles envolvidos em esportes de resistência, como corrida de longa distância, ciclismo e montanhismo. Quando uma pessoa se desloca para altitudes elevadas, onde a pressão atmosférica é mais baixa, a quantidade de oxigênio disponível no ar diminui. Isso afeta diretamente a capacidade do corpo de transportar oxigênio para os músculos e outros tecidos, resultando em uma série de adaptações fisiológicas e desafios que os atletas precisam enfrentar.
Escalada de montanha/ imagem: pixabay.com
O Impacto da Altitude no Corpo
Em altitudes elevadas, a pressão barométrica é menor, o que significa que o ar é menos denso e contém menos oxigênio por unidade de volume. Esse fenômeno pode resultar na redução do oxigênio na corrente sanguínea, uma condição que é conhecida como hipóxia. A hipóxia pode levar à diminuição do desempenho atlético, pois o corpo recebe menos oxigênio para realizar suas funções normais. Essa redução de oxigênio pode causar fadiga mais rapidamente, aumentar a frequência cardíaca e a taxa de respiração, e dificultar a recuperação após o exercício.
Nos primeiros dias em altitudes elevadas, os atletas podem experimentar o “mal da altitude”, que inclui sintomas como dor de cabeça, náusea, tontura e dificuldade para dormir. Esses sintomas são causados pela falta de oxigênio no sangue e pela necessidade do corpo de se adaptar ao novo ambiente. À medida que o corpo se aclimata, ele começa a produzir mais glóbulos vermelhos, que são responsáveis pelo transporte de oxigênio. Esse aumento na produção de glóbulos vermelhos é uma resposta adaptativa que ajuda a compensar a menor disponibilidade de oxigênio.
Efeitos no Desempenho
Os efeitos da altitude no corpo humano são uma das principais preocupações para os atletas. Em geral, o desempenho em exercícios aeróbicos, como corrida de longa distância, tende a diminuir em altitudes superiores a 2.000 metros acima do nível do mar. A menor disponibilidade de oxigênio limita a capacidade do corpo de gerar energia por meio do metabolismo aeróbico, forçando-o a depender mais do metabolismo anaeróbico, que é menos eficiente e resulta em acúmulo de ácido lático nos músculos, causando fadiga.
Atletas que competem em altitudes elevadas sem a devida aclimatação podem enfrentar uma diminuição significativa no desempenho. Por exemplo, corredores de maratona podem ver seus tempos de corrida aumentar, ciclistas podem lutar para manter a mesma intensidade em percursos montanhosos, e alpinistas podem enfrentar dificuldades extremas ao tentar alcançar picos altos.
Além disso, a diminuição do desempenho pode ser exacerbada por condições ambientais adversas, como temperaturas frias e ventos fortes, que são comuns em altitudes elevadas. Essas condições podem aumentar a demanda energética do corpo e tornar o exercício ainda mais desafiador.
Adaptações e Treinamento em Altitude
Apesar dos desafios impostos pela altitude, muitos atletas buscam treinar em altitudes elevadas para obter benefícios fisiológicos conhecidos como “efeito de altitude”. A aclimatação à altitude pode aumentar a capacidade do corpo de transportar e utilizar oxigênio, o que pode melhorar o desempenho em competições realizadas em altitudes mais baixas.
O treinamento em altitude é uma estratégia popular entre atletas de elite, especialmente corredores de longa distância e ciclistas. O objetivo é expor o corpo a condições de hipóxia para estimular a produção de glóbulos vermelhos e melhorar a eficiência do transporte de oxigênio. No entanto, esse tipo de treinamento requer tempo e planejamento cuidadoso. Uma aclimatação adequada pode levar semanas, e os atletas precisam equilibrar a intensidade do treinamento com o risco de fadiga excessiva e doenças relacionadas à altitude.
Uma abordagem comum é o método “live high, train low” (viver alto, treinar baixo), em que os atletas vivem e dormem em altitudes elevadas para aproveitar os benefícios da aclimatação, mas realizam treinos intensos em altitudes mais baixas para manter a qualidade do treinamento. Essa estratégia visa maximizar os benefícios da aclimatação sem comprometer o desempenho durante os treinos.
Conclusão
A altitude apresenta desafios únicos para os atletas, influenciando tanto a fisiologia quanto o desempenho. A menor disponibilidade de oxigênio em altitudes elevadas pode levar a uma diminuição no desempenho, especialmente em esportes de resistência, e pode causar sintomas de mal-estar enquanto o corpo se adapta. No entanto, com uma aclimatação adequada e estratégias de treinamento específicas, os atletas podem superar esses desafios e até mesmo aproveitar os efeitos benéficos da altitude para melhorar o desempenho em competições futuras. O treinamento em altitude, quando feito de maneira adequada, pode ser uma ferramenta valiosa para alcançar novos níveis de desempenho e competitividade.
Referências
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